quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O MÁGICO DE OZ

Hoje, às 5:30hrs da manhã. Me deparei com uma garota de olhos cansados, sentei ali ao seu lado, mas percebi que seus olhos de cansaço eram os olhos mais felizes que já tinha me deparado, ainda mais aquela hora da manhã. E transparecendo fadiga, percebi suas noites bem dormidas, e era por isso que parecia implorar para voltar pra cama, pois queria continuar no descanso que estava esperando há dias.
Ela nem notou minha presença, ficou ali sentada na cama, olhando para seus pés enquanto acordava pouco a pouco. Engraçado ela nem notar que estava bem de pé, encostada no batente da porta. Acompanhei sua ida ao banheiro, onde ali lavou o rosto, e se olhou profundamente no espelho. Mergulhei ali para ver no que estava pensando tanto, me assustei com tantas coisas que aquele ser estranho tanto pensava. Logo quando entrei ali, gritei "valha-me Deus!" tropeçando em alguns ingressos de cinema, me curvei para ler:
- Oz. - Lembrei que o Mágico de Oz sempre foi meu filme predileto de infância. Senti algo tocando levemente minha mão, e mexendo no meu anel de joaninhas, soltei tão rápido que os ingressos sumiram com a mãos que estava tocando as minhas. Fui andando mais, dentro daquela turbulência escura. No centro de tudo, havia uma mistura de sentimentos que até pra mim estava confuso, confesso.
Uma cama de casal, com cobertores, duas pessoas deitadas, cada uma virada para um lado, logo posicionadas de costas uma para outra. No pé da cama, um óculos sem uma lente, balinhas de sabores sortidos. E um forte cheiro de café, que exalava de algumas xícaras, papéis encharcados, lista com coisas a se fazer, na capa escrito "quem sabe um dia", e desenhos por todo o chão, que eu não tive o cuidado de retira-los dali, então pisando neles continuei. Eu andava ali, pegando em tudo, e os dois não se atreviam acordar. Dessa vez, senti algo me puxando pelas costas, causando uma "típica" câimbra nas pernas, olhei fixamente para elas, e percebi que meus joelhos pareciam não querer sustentar o resto de meu corpo. Saí correndo de onde estava, e me deparei na mesma porta do banheiro onde observava aquela criatura cética.
Percebi seu sorriso ao vestir uma blusa verde que cobria suas mãos, lhe lancei um olhar iônico querendo lhe dizer que aquilo não era bem do seu tamanho e ela tinha que escolher roupas do seu tamanho. Porem, nem sinal de contato visual comigo, parecia não me ver. Ela cheirou a blusa, e parecia estar entrando de novo naquela escuridão confusa, onde não tinha entendido metade das coisas ali presentes.
Se olhou no espelho, novamente. Tentei ler seus olhos, consegui... Estava se lembrando no dia em que prometeu a si, ser um "homem-de-lata", não ter coração?! Que coisa maravilhosa, genial. Ou poderia fazer igual o espantalho, e ser completamente palha. Sem sangue correndo pelas veias, coração batendo rápido, frio na barriga, noites em claro... Somente palha. E a falsa coragem, que transparecia o Leão, te sustentaria. Perfeito.
Seus olhos perderam a personificação, ficaram frios... Saí de sua mente, pois parecia que alguém tinha aberto a porta do Alasca. Ali, se apoiou na pia, olhou para a blusa. E sorriu, sorriu como nunca. Foi correndo em direção ao elevador, com sua mala, nem ligava se ia pegar transporte lotado... Daria bom dia até aos tijolos das casas.
Saí correndo atrás daquela que, juro, parecia ter nascido grudada a mim. Na rua, eu falava comigo mesma:
- Tá entendendo alguma coisa?, sinceramente nem sei porque está seguindo essa desmiolada, tá lá sorrindo sozinha, nesse frio a essa hora da madrugada, nem se quer o sol saiu ainda.
No caminho, sentei ao seu lado e fui lendo o mesmo livro. Mas, juro, não me lembro de ver essa garota acordar tão sorridente. Desde que era um pequeno bebê, acordava ali, aos seus pés; Tentei me apresentar a ela, mas ela se negava a prestar atenção em mim. Aquilo estava me irritando.
Desceu, rumo ao metrô. Seu rosto estava sério, assim desde a hora que acordou. Mas eu conseguia enxergar o sorriso de orelha a orelha, fogos explodindo em suas mãos, sabia que sua vontade de sapatear de felicidade era enorme porém não achava apropriado. Na escada rolante, pensei em voltar, e espera-la no pé da cama, como de costume. Mas minha curiosidade estava me matando, e para meu sofrimento, o ser-humano sentou em umas cadeiras localizadas na plataforma, parecia esperar alguém. Fiquei impaciente, me levantei e fui embora. E enquanto subia a escada, olhei para trás. E vi alguém abraçando-a, era mais alto que ela, de blusa preta e vermelha. Algo me chamava atenção, eu já tinha visto aqueles óculos antes!.
Algo me dizia que eu não precisava estar ali pra vê-la acordar todos os dias, e que ela não precisava mais de mim. Ela tinha conseguido se livrar de mim, mais rápido do que imaginei, confesso.
Minha ultima lembrança foi olhar ela sorrindo, e aqueles fogos que estouravam... Mas que ninguém sabia que estavam ali, só ela. E eu sabia que ela o amava, se não jamais me deixaria, e amava muito.

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