terça-feira, 6 de agosto de 2013

ORELHAS

Enquanto ria sem parar, milhões de coisas se passavam em sua mente. Mas obviamente, calada continuou a sorrir desesperadamente enquanto dizia "sim, você parece estar triste!".
Longe dali as palavras dançavam de ponta cabeça apoiadas naquele pé direito. Elogios ainda conseguia dizer de toda voz. Mas logo depois, percebeu porque se sentia mal sem carregar nada nos ombros, era como se a vida tivesse montado em suas mãos e suspiro, e não lhe deixasse esquecer que o apego era perigoso, então como prova colocou o medo em suas cordas vocais, peso e olhos silenciosos. As conversas internas estavam durando milênios a mais, e sua cabeça ali insistindo para que parasse de dizer o quanto queria estar ali. Porém, as mesma consequências que a vida tinha imposto, as mãos que ali passavam pelas costas estavam levando todo o peso dos ombros embora. E percebeu que nem Galileu Galilei conseguiria explicar tudo aquilo, ou seus joelhos perdiam a força cada vez que isso acontecia, ou algo muito forte lhe puxava para o chão.
"No que está pensando?". A pergunta lhe aqueceu o peito e esvaziou a mente, como se tudo que estivesse ali sapateando em cima dos neurônios, sumisse. Apagão. Nem se quer tinha o que responder. "Estou pensando em tudo" soaria uma resposta sem nexo. Então se apagou a voz.
Poderia contar que converteu o apego em possessividade, riu. E que se tivesse uma caixinha do nada, sem pensar duas vezes o guardaria ali, em uma cama de casal, com centenas de pilares e colunas em branco, justamente localizadas em paredes de vidro e pé direito seis vezes maior que o normal para serem pintadas pelas mãos, mãos que inspiraram tanto o medo de perde-lo que resolveu guardar na caixa. Sua cabeça tinha voltado a pensar sobre tudo novamente.
Sentiu aquele mal estar no coração novamente, batia lentamente e forte, mas não comentou nada para que não se preocupasse. Para sua surpresa, o mesmo comentou sobre sua "respiração forte".
A despedida trouxe a saudade, e enquanto descia a escada rolante e se percebeu sozinha no meio de tanta gente, seu coração bateu como se estivesse alertando que o medo de perde-lo era bem maior que o medo do apego. Olhou para trás rapidamente, procurou-o em todos os rostos, precisava dizer o que não teve coragem, e que tinha decidido passar o resto do dia com ele. Era tarde.
O caminho inteiro, pensando que a vida fez tudo certo, sequer errou em um momento. Mostrou que se apegar seria se afogar sem tomar o folego. Arrumou alguém para lhe tirar esse folego que não possuía, com dedos que percorriam a pele tirando os vestígios do medo.
Era como se tivesse colocado a doença e a cura. Sentada ali com bastante gente em volta, alguns até encarando-a. Certeza que muitos ali sabiam que ela estava tendo uma conversa consigo mesma.

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