sexta-feira, 23 de agosto de 2013

MEIO FIO.

Trinta e cinco andares abaixo de seus pés se encontrava uma calçada, movimentada, mas com o fluxo muito bem calculado. Se aventurou ficar em um pé só, ali no topo, abriu os braços... Sentiu o medo rasgando seus nervos, seus ossos expandiam dentro da carne e sua veia latejava. Fechou os olhos. Aos poucos e sem perceber ia se inclinando para frente. Ouviu um grito, desesperado. Duas mãos puxaram sua blusa, e a voz tremula dizia em tom de ira "tá ficando louca?". Subitamente virou-se em direção a quem havia lhe surpreendido, ficou ali parada e demorou para perceber que aqueles olhos conhecidos encaravam os seus. 
- Anda tomando alguma coisa? Ou o que pelo menos deveria estar tomando... - Indagou.
Continuou encarando aqueles buracos negros que estavam sugando toda sua vontade de estar ali.
- Sei lá. - Longe de parecer antipática e grosseira, estava dopada.
Aquelas mesmas duas mãos que desagradaram-a, tocaram seus braços com aperto em seguida. E foi chacoalhada, mas ela não sentia nada. 
- Ei. Ei... Acorda. - A voz que ela escutava estava ficando cada vez mais lenta e grave. E a imagem nem tão nítida como antes. Começaram alguns tapas no rosto. - Está me assustando, olhe para mim. 
- Pare de gritar! Vai ficar tudo bem. - Caiu de joelhos no chão, sem enxergar nada. 
- Não está bem, onde estão seus remédios?. 
Fez sinal negativo com o polegar da mão esquerda, e riu. Ao ver isso, e enquanto sua companhia corria para a mureta ver se havia jogado tudo aquilo de lá de cima, caía na gargalhada. E repetia:
- Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. - Ria, um sorriso perturbador. 
Dessa vez os olhos lhe encararam com medo. Olhos de quem temia a loucura que exalava dos seus lábios.
- Podemos ficar sentados, passando os dias sem saber do nosso fictício futuro. Quem sabe nunca chegue. Podemos ficar ali, olhando os dias passando, sem saber de nada, sem saber o quê, onde, pra quê, e porquê? Claro que sim. Mas soa tão simples a solução. Assim como tudo isso que iriamos passar nossos dias esperando para ver, podemos escolher parar com isso. Escolher ir embora desse purgatório, e ver para que estamos esperando todo esse tempo. - Explicava tudo com um sorriso no rosto, como se chamasse o outro para que fossem juntos.
Parece que isso assustou o visitante, um tanto quanto já estava. Aos poucos, levantou e foi se distanciando, enquanto andava de costas. Centímetro a centímetro.
- Me espere lá embaixo, querido. - Sorriu, tomada pela loucura.
Abriu os olhos. Era tarde demais, dentro de menos de dois segundos estaria no chão. Jogada ao meio fio e rodeada de pessoas se perguntando como teria acontecido, e o porquê de ter feito isso. Caiu. Encostado na porta, os olhos assustados, se fechavam para não presenciar a loucura que era representada no vermelho. E suas mãos protegiam seu rosto de tremendo escândalo. Bocas especulantes e curiosas nem faziam ideia de como aquele corpo, agora sem valor nenhum estava certo.

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